Uma janela para o futuro e as 5 melhores “Draft Classes” de sempre

por jun 24, 2023

Está concluído mais um draft da NBA e, como sempre, é um evento recheado de grandes emoções. Jovens que trabalharam durante anos finalmente alcançam os seus sonhos, rodeados da família, muitas vezes ainda mais emocionados que eles. Fãs ficam em êxtase quando concordam com a escolha e arrancam cabelos da cabeça quando discordam. E este draft não foi diferente. Não obstante não ter havido qualquer surpresa na primeira escolha.

Desde o segundo em que os Spurs descobriram que tinham ficado com a primeira escolha que se sabia que esta iria para o prodígio francês. O que mais há a dizer sobre Victor Wembanyama que não tenha sido já dito ad nauseam? Sim, ele é tudo o que pintam dele – e muito mais ainda. É absurdamente alto, com uma wingspan ridícula e usa esses atributos físicos para ser um terror defensivo – acima de tudo na defesa do garrafão mas também em closeouts que fazem tremer qualquer lançador. No ataque, tem a fluidez de um base no corpo de um poste, com capacidade de atacar o cesto e de converter lançamentos tanto do midrange como atrás da linha de triplo. E, como se isso não bastasse, tudo indica que tem uma mentalidade competitiva sem par e uma maturidade invulgar para a sua idade. Sei que há muitos que não resistem a ser do contra só porque sim, mas não liguem a esses chatos. Têm a minha permissão para ficarem muito entusiasmados com que está para vir deste miúdo.

Para além dos Spurs, várias outras equipas tiveram razões para sorrir na noite de quinta-feira. Gostei bastante do resultado final das escolhas dos Rockets, primeiro escolhendo um base com enorme capacidade atlética em Amen Thompson e depois aproveitando a reputação em queda de Cam Whitmore para o apanhar na 20.ª escolha – um feito impressionante, dado que Whitmore chegou a ser considerado para o Top 5. Numa dimensão menor, também apreciei muito o que os Mavericks fizeram, ao libertarem o mau contrato de Davis Bertans para os Thunder e descendo da posição 10 para a 12, acabando por escolher o mesmo jogador que teriam alvejado de qualquer forma, o poste Dereck Lively II.

No outro lado do espectro, como fã dos Orlando Magic, devo dizer que não adorei o que a minha equipa fez com a escolha 11. Com jogadores como Gradey Dick e Jordan Hawkins ainda disponíveis, Orlando surpreendeu tudo e todos ao escolher Jett Howard. Sim, é verdade que escolheram um “shooter”, como bem precisam, mas, mesmo que Howard se venha a revelar o melhor dos três, certamente os Magic poderiam ter feito um trade down e escolhê-lo mais tarde, ao mesmo tempo que amealhavam mais alguns assets pelo caminho.

E, por fim, temos os Hornets, que, apesar de terem um plantel ainda em construção, decidiram escolher Brandon Miller na 2.ª escolha, em vez do consensual Scott Henderson. Um último “presente” envenenado da gestão danosa de Michael Jordan, que está de saída como dono, claramente inspirada por uma concepção bizarra de que irá “encaixar” melhor com LaMelo Ball – o tipo de decisão que só faz sentido numa equipa numa fase bem mais avançada do seu rebuild.

Essa escolha colocou os Portland Trail Blazers numa posição muito interessante. Damian Lillard já deu a entender que não quer “perder tempo” a ver jovens a crescer na liga e quer atacar um título já. Será que os Blazers vão usar o “prémio” de Scott Henderson para recrutar uma estrela mais veterana? Será que irão, no sentido inverso, trocar Lillard e iniciar o seu próprio rebuild? Ou tentarão fazer a coisa resultar com o plantel que já têm?

Tudo é possível, agora que estamos na fase de trocas da offseason, onde tudo pode ainda acontecer. Já vimos Beal rumar aos Phoenix Suns, Porzingis para os Celtics, Smart para os Grizzlies e Chris Paul para os Golden State Warriors. Já muito mudou na liga em pouco mais de uma semana e a “brincadeira” ainda mal começou. Agora só nos resta pegar nas pipocas e desfrutar do espetáculo.

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Inspirado pelo buzz em torno deste draft, decidi olhar para os melhores drafts de sempre, com uma regra – precisamos de algum tempo para avaliar carreiras, por isso só estavam elegíveis para esta minha lista os drafts de 2012 para trás:

1987 (David Robinson, Scottie Pippen, Kevin Johnson, Horace Grant, Reggie Miller)

Ponderei aqui a “draft class” de 1998, como nomes como Dirk Nowitzki, Vince Carter e Paul Pierce ou até 1970, com lendas como Pete Maravich, Dave Cowens, Bob Lanier e nate Archibald, mas não resisti a este “cinco titular” com Kevin Johnson e Reggie Miller a bases, e depois Scottie Pippen e Horace Grant a garantir defesa estelar em volta de uma estrela como David Robinson a poste. O obsessivo-compulsivo em mim não resiste à simetria de poder formar uma equipa coerente (e muito competitiva) com tudo jogadores do mesmo ano.

2009 (Blake Griffin, James Harden, Stephen Curry, DeMar DeRozan, Jrue Holiday)

Este ano é interessante, porque inclui várias estrelas que atingiram picos incríveis de talento e também passaram por momentos da carreira em que foram altamente criticados. Especificamente – com a exceção de Jrue Holiday – muitos dos maiores talentos deste ano foram acusados de não atingir patamares ainda mais altos devido a deficiências defensivas. Ainda assim, entre Stephen Curry, James Harden, Blake Griffin e DeMar DeRozan, o poderio ofensivo aqui é simplesmente ridículo – e faz o seu “estrago” de todas as formas possíveis.

2003 (LeBron James, Carmelo Anthony, Chris Bosh, Dwyane Wade, Boris Diaw)

Depois do Top 4, esta “draft class” reduz um bom bocado de qualidade, fazendo ficar aqui em 3.º lugar. Mas que Top 4 este… LeBron James é um dos melhores de sempre, Dwyane Wade é estranhamente underrated e Carmelo Anthony e Chris Bosh só não estão ainda mais alto no “panteão” devido a tropeções nos finais de carreira. O Bosh por problemas de saúde e o Melo por problemas de teimosia em recusar-se a fazer o mínimo de esforço defensivo. Ainda assim, imaginem em que lugar estaria esta “class” se Darko Milicic tivesse atingido o seu potencial.

1996 (Allen Iverson, Ray Allen, Kobe Bryant, Peja Stojakovic, Steve Nash)

Nas primeiras escolhas deste draft, tivemos muitos jogadores que, sendo talentosos, nunca atingiram necessariamente o que se esperava deles, como Marcus Camby, Shareef Abdur-Rahim, Stephon Marbury ou Antoine Walker. Mas, quando este ano “acertou”… porra se acertou. Allen Iverson e Ray Allen são os destaques no Top 5 mas depois, nas escolhas 13 e 15, temos Kobe Brant e, pouco depois, Steve Nash, que conquistou mais MVPs até que Kobe. E porque menciono eu isto? Porque irrita o Shaquille O’Neal e ele merece a alfinetada.

1984 (Hakeem Olajuwon, Michael Jordan, Sam Perkins, Charles Barkley, John Stockton)

É um “cliché” dizer que este é o melhor draft de sempre, mas que outra escolha poderia eu fazer? Mesmo retirando Michael Jordan da equação, que coleção de talentos absurda. Olajuwon foi escolhido à frente de MJ e foi tão bom que basicamente nunca é descrito como tendo sido a escolha errada. Charles Barkley foi um jogador fenomenal, incomparável e continua a destruir todas as expectativas fora do campo também. E, ali em baixo na escolha 16, ainda conseguimos encontrar John Stockton, um homem que, não contente por liderar a liga em assistências, conseguiu também superar anos de experiência académica e prática dos melhores epidemiologistas no mundo com algumas horas de pesquisa em sites manhosos. Rei.

por PEDRO QUEDAS [@quedas]

Autor

Pedro Quedas

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